O surgimento do rap em Moçambique remonta aos anos 1980, quando o género começou a ganhar destaque internacionalmente. A influência do movimento hip hop, que emergiu nos Estados Unidos como uma expressão cultural das comunidades urbanas, rapidamente se espalhou pelo mundo, e alcançou também Moçambique.
No contexto moçambicano, o surgimento do rap foi fortemente influenciado pela música e cultura africana, mas também absorveu elementos do hip hop americano e outros estilos musicais internacionais. No entanto, o rap em Moçambique rapidamente assumiu uma identidade própria, onde reflectia as realidades sociais, políticas e culturais únicas do país.
Durante os anos 80 e 90, um período marcado pela guerra civil e por desafios socioeconómicos significativos, o rap emergiu como uma forma de expressão para os jovens moçambicanos. As letras do rap frequentemente abordavam questões como desigualdade, pobreza, violência e injustiça social, reflectindo as lutas e aspirações da juventude urbana moçambicana.
Grupos e artistas individuais começaram a surgir em diferentes partes do país, usando o rap como uma forma de dar voz às suas experiências e perspectivas. Embora inicialmente o acesso à música e à produção fosse limitado, a cena do rap moçambicano cresceu à medida que mais artistas encontraram maneiras de criar e compartilhar sua música.
Assim, o surgimento do rap em Moçambique foi impulsionado pela necessidade de expressão e pela busca por identidade cultural em meio a um período de mudança e desafio. Ao longo dos anos, o rap se tornou uma parte integral da cena musical moçambicana, ofereceu uma plataforma para os jovens se expressarem e compartilharem suas histórias e perspectivas únicas.
As primeiras manifestações de rap, chamadas de Relato, começaram a surgir, sendo Zito Doggystyle uma das figuras proeminentes nesse novo paradigma cultural. Zito tornou-se notável como apresentador do primeiro programa televisivo e radiofónico dedicado ao hip hop em Moçambique: “Música Viva” e “Hip-Hop Times”, respectivamente. Seu programa contribuiu significativamente para a afirmação da música rap no início dos anos 90.
Em 1992/1993, os Rappers Unit, considerados o grupo “pai” do rap em Moçambique, emergiram, contavam com artistas como Don Mczaleen, Hélder Leonel e, mais tarde, Gina Pepa. Hélder Leonel não só fez parte dos Rappers Unit, mas também sucedeu Zito Doggystyle no comando do “Hip Hop Times”.
Nos anos 90, os eventos “Txova” se tornaram emblemáticos, com freestyles nas ruas e batalhas entre MCs e grupos. Artistas e grupos como Duas Caras, Trio Fam, 100 Paus, Dinastia Bantu, 360 Graus e Auto-Squad ganharam destaque nos palcos do “Txova”.
Até 1997, o rap em Moçambique se resumia principalmente a freestyles, aparições na rádio e batalhas. No entanto, a partir desse ano, os primeiros trabalhos discográficos do rap moçambicano foram lançados. O grupo OKV foi responsável pelo primeiro álbum de rap em Moçambique, intitulado “Rap from the Southside“, lançado em 1997. Eles também participaram da primeira colectânea de música rap do país, “Novos Sons de Moçambique”, ao lado de artistas como Fill Baby e a dupla Lizha & Tania James.