A cantora moçambicana Júlia Duarte, conhecida por cantar Kizomba, surpreendeu a classe artística e os amantes da música moçambicana ao participar numa faixa de rap intitulada “Volvo”, do rapper moçambicano Dice.

Além de Júlia Duarte, a música conta com a participação de artistas nacionais como Nelson Nhachungue, Djimetta e DJ Bavy.

Em conversa com a Baballute, a artista partilhou o processo criativo deste trabalho, revelando detalhes exclusivos sobre como tudo aconteceu e os seus métodos de trabalho.

1. Como foi receber o convite para participar na música “Volvo” com Dice, Djimetta, Nelson Nhachungue e DJ Bavy?

Acredito que, se ele me convidou, é porque sabia que eu, em algum momento da minha vida, já fiz rap, embora por um período muito curto. Gosto de hip-hop; cheguei até a vestir-me como os fãs deste estilo, mas, com o tempo, voltei ao meu estilo feminino. Então, acredito que Dice conhece um pouco desta história e, por isso, me convidou para o “Volvo”.

A princípio, não levei a sério; se ele não insistisse, nem teria participado. Ele é uma pessoa que, quando sonha, quer ver o seu sonho realizado. Ele me convenceu, e fui gravar.

“Eu nem sabia que ainda tinha muito flow (risos), mas lá saíram muitas barras com a ajuda do Dice”.

2. Como foi trabalhar com artistas fora do teu estilo musical?

Foi um pouco estranho trabalhar com artistas que não são do meu estilo, mas eu tenho outros estilos além de Kizomba, Zouk ou Passada. Já cantei outros géneros e sou amante de vários estilos. O público conhece-me mais pelo que faço habitualmente, mas já explorei outros estilos.

Foi estranho porque nunca tinha tido uma colaboração direta com Djimetta, por exemplo, só o conhecia de fotos. Já estive com o Nelson várias vezes, mas nunca antes numa colaboração, e foi bem interessante.

3. O que mais te marcou durante a composição e gravação de “Volvo”?

O que mais me marcou foi a crença e motivação que Dice me transmitia. Ele tinha mais fé do que eu. Mesmo depois de a música ter terminado, eu não acreditava ter feito um bom trabalho. Agora que a música saiu, senti que mandei bem nas barras. Marcou-me a determinação de Dice em querer mais do que eu e a crença de que conseguiríamos fazer algo espetacular.

4. Na música, afirma ter feito a letra sem esforço. Como foi o processo criativo para esta faixa?

(Risos) Dizer que escrevi a letra sem esforço não é verdade. Foi ideia do Dice; ele contribuiu bastante para a letra. Ele escreveu partes que combinavam tanto comigo que parecia que fui eu a 100%, mas não fui. Dice que estava sempre lá a dizer: “Faz assim, fala isso”, e pronto, saiu.

5. Como foi a preparação para cantar num estilo diferente do que estás acostumada?

Na verdade, não houve preparação. Ele enviou-me uma ideia e eu disse: “Vamos lá”. Não tenho o hábito de ensaiar, a inspiração vem mais quando estou no estúdio, e isso aprendi com Slowly. Não consigo pegar uma música e ensaiar fora do estúdio. Normalmente, vou ao estúdio e gravamos na hora. Não houve preparação nenhuma.

6. Que mensagem gostaria de transmitir aos fãs através da participação nesta música?

Acho que adquiri novos fãs, porque os meus já estavam habituados a um estilo, e alguns nem reagiram, enquanto outros ficaram surpreendidos: “Afinal, tu consegues fazer isso”. A mensagem que deixo é que a música é alegria; a música é onde nos sentimos bem. Esta música deu-me um impulso, e senti que devia fazer parte. Quem ama música acaba por amar tudo o que é bom, não apenas um estilo específico.

7. Como vês a evolução da música moçambicana e as colaborações entre artistas de diferentes géneros musicais?

Acho que há pouca colaboração entre artistas de diferentes estilos. Já vi algumas colaborações, e isso é uma mais-valia para nós. A música moçambicana e a cultura em geral agradecem. Como se diz, a união faz a força, e essa frase não é apenas uma frase; é uma realidade. A união faz, sim, a força; quanto mais estivermos unidos, ganharemos.