A trajetória do rapper Azagaia é um testemunho da influência e impacto que a música pode ter na sociedade.
Nascido a 6 de maio de 1984 em Namaacha, província de Maputo, Edson da Luz, ou simplesmente Azagaia, nome inspirado numa lança curta, emergiu como uma figura central na música moçambicana, consolidando-se como um ícone do rap e da resistência cultural, usando a arte para falar em nome do povo.
Azagaia iniciou sua jornada musical ainda na adolescência, integrando o grupo Dinastia Bantu com MC Escudo. O grupo lançou o álbum Siavuma em 2005, marcando o início de uma carreira promissora. No entanto, foi em 10 de novembro de 2007 que Azagaia fez sua estreia como artista solo com o álbum Babalaze, palavra que significa “ressaca” na língua changana, refletindo o tom crítico e reflexivo do trabalho.
O álbum foi um marco na música moçambicana e alcançou um recorde de vendas no dia do lançamento. Conta com participações de Terry e Valete, destacando-se pela qualidade musical e pelo conteúdo provocador.
Faixas como “As Mentiras da Verdade” e “A Marcha” abordaram questões políticas e sociais, resultando em uma recepção controversa, mas significativa. A crítica ao governo moçambicano fez com que algumas músicas fossem excluídas da programação dos canais públicos, evidenciando o poder da arte como ferramenta de contestação.
O compromisso de Azagaia com a justiça social e política tornou-se ainda mais evidente com o lançamento de Obrigado Pai Natal (2007) e Obrigado de Novo Pai Natal (2008), músicas que refletiram sobre as turbulências políticas e sociais de Moçambique.
Ao longo da carreira, o rapper enfrentou represálias do governo com a apresentação de “Povo no Poder” após a revolta popular de 5 de fevereiro de 2008. A música, que criticava a gestão governamental, resultou em uma intimação à Procuradoria-Geral da República, onde Azagaia foi acusado de “atentar contra a segurança do Estado”.
Em 9 de novembro de 2013, Azagaia lançou o segundo álbum, Cubaliwa (nascimento na língua Sena), onde apresenta uma reflexão e reinício no discurso do rapper, que passa a focar nas responsabilidades e no papel de cada cidadão na sociedade, além de criticar apenas os governantes.
Após o lançamento, esteve por um período afastado dos palcos, anunciando o fim da sua carreira, marcada por detenções, ameaças e uma doença.
O regresso aos holofotes deu-se em 2016 com um concerto na discoteca Coconuts em Maputo.
Depois de Cubaliwa, lançou o EP (Extended Play) Só Dever em 2019, assinado pela GM Records, que inclui faixas como “Só Dever”, “Soldados da Paz” e “Sequestrei”.
Além deste projeto, também foram lançadas faixas de intervenção social, como “Vendem o País” e “Aí de Nós”, que abordam a questão do terrorismo que assola a província de Cabo Delgado, no norte do país.
Quando tudo parecia estar normal, com o rapper cada vez mais próximo do povo, veio a notícia trágica do seu desaparecimento físico.
Mano Azagaia, como também era conhecido, faleceu na noite de quinta-feira, 9 de março de 2024, aos 38 anos, por um possível ataque de epilepsia, doença que padecia há alguns anos.
Sua morte prematura é vista como uma perda significativa para o cenário cultural e político de Moçambique, mas seu legado continua a inspirar e provocar reflexão.
O impacto de Azagaia foi consagrado no dia do seu enterro, com uma enchente que jamais se viu na história da cultura moçambicana, demonstrando o poder transformador da música e a importância de uma voz crítica na construção de uma sociedade mais justa e consciente.