Criar um som moçambicano, devolver aos artistas o amor pela nossa identidade, são as metas do jovem Elton Penicela enquanto produtor musical. 

Descreve-se como um jovem criativo e muito ambicioso. Descobriu a sua paixão pela produção musical ainda em criança, quando a asma o impedia de brincar como as outras crianças, o que lhe deu mais tempo para ficar em casa a assistir a vídeos musicais.

A situação despertou um talento único para a audição: enquanto a maioria das pessoas se focava nas letras, ele interessava-se pelos aspectos instrumentais e pelas notas das músicas. 

Durante essa fase, aventurou-se no conhecimento de diversos géneros musicais e, alimentado pela vontade de criar as suas próprias instrumentais, descobriu o beatbox com a ajuda de seu primo, que era rapper.

Produção musical como um propósito de vida

Em entrevista com a Baballute, Penicela revelou ter encontrado na produção musical o seu maior propósito de vida, que se traduz em não só produzir, mas criar produções intemporais que se conectem com a realidade dos ouvintes. 

“Se eu não considerar como propósito, apenas estarei a fazer música por fazer, porque serão músicas que as pessoas vão ouvir, vão tornar-se grandes êxitos e, depois de um tempo, as pessoas vão esquecer-se”, explicou.

Aliando-se ao propósito, Elton quer trazer a identidade moçambicana às suas produções, reforçando a musicalidade e o talento nacional. O objectivo resulta da percepção de que, sempre que há um gênero novo, como é o caso do Amapiano, os artistas moçambicanos não têm a visão de recriar e incorporar a sua identidade, procuram competir com o estilo original. 

“Na música moçambicana, eu quero ajudar a despertar a mente que vai criar o som de Moçambique, quero que os estrangeiros e outros artistas procurem a música de Moçambique por notarem uma diferença e digam que existe um género que podemos chamar, por exemplo, de ‘Rap de Moçambique’.”

E sobre Rap, recentemente, o produtor teve a honra de produzir para um dos grandes nomes do Rap nacional, Hernâni da Silva, através do som “Enquanto Isso”, que faz parte da Extended Play “Goat”, lançado no ano passado. 

É um dos artistas que admira e sempre esteve nos seus planos trabalhar com ele, porém, não esperava que fosse tão rápido, uma vez que assume estar numa fase inicial da sua carreira, ao ponto de se orgulhar da conquista.

Mas não é só de grandes nomes que se vive, tanto que também ama o facto de estar a produzir para artistas do seu meio, como é o caso de Frenklin De Gusmão em “Flow da Munhava”, Rober Mavila em “Selesti”, e também para Konfuzo 412, marcando assim presença no novo álbum do artista intitulado “I Love You Júnior”.

O produtor deve dar a cara

Questionado sobre a valorização dos produtores no país, Elton Penicela apontou que um dos grandes problemas é a timidez dos artistas, que não gostam de ser ovacionados, uma situação que está a ser mudada pela nova geração de produtores. 

“O produtor sempre fica nas sombras, e não é só em Moçambique. Os produtores da minha geração é que estão a tentar mudar isso, para que o produtor seja visto, reconhecido e se acostume a mostrar a cara, para que o consumidor também saiba quem produziu”, respondeu o produtor.

Penicela acredita que “o artista e o produtor deviam estar no mesmo nível; há casos em que a música é o que é por causa do trabalho do produtor, que foi incrível”, concluiu. 

Ao longo da carreira, uma das grandes lições obtidas foi a importância de lidar com os desafios que aparecem no processo, pois foi uma escolha apostar na produção musical.