A evolução do Pandza em Moçambique tem sido notável, especialmente nos últimos anos. Phandza, um género musical que combina elementos de Marrabenta, Dancehall e Hip-Hop, continua a ganhar popularidade. Apesar de vários artistas tornarem o ritmo musical muito consumível e abraçado por todos a nível do país por ser este um estilo que identifica a todos, a etapa da internacionalização deste estilo está tão perto e tão distante de se alcançar. Para compreender como está o Pandza actualmente, na voz de quem o vive, e saber o que estaria faltar para a sua internacionalização, a equipe da Baballute convidou uma grande referência do Pandza, que pelo seu comprometimento actualmente lançou um álbum que intitulou como Pandza Lifestyle, Mr. Kuka, para dar o seu parecer. Acompanhe abaixo.
Por que fazer o Pandza e manter-se consistente há sensivelmente 17 anos?
Como todo artista, viemos do rap. O rap é a escola de qualquer músico que depois decide por onde quer envergar. Mr. Kuka fazia rap até 2001, sempre tive influências do estilo Kwaito, mas não fazia sentido para mim, como moçambicano, fazer um estilo que era sul-africano. Então surgiu o Pandza e, sendo um estilo aberto, deu espaço para o Mr. Kuka fazer o seu estilo dentro do Pandza e eu me viciei e já não volto a fazer outro estilo. Mesmo quando aparece uma música de outra área, sempre puxo para fazer em Phandza. Na verdade, também me identifiquei por não ser um estilo do sul, mas por ser um estilo nacional. É o único estilo que tu vais encontrar em qualquer região do país, diferente da Marrabenta, que é originalmente do sul.
O Pandza é de todos os moçambicanos e eu me identifiquei porque sinto-me a cantar em todo o país.
Como foi receber o convite do DJ Ardiles para fazer Pandza?
Nesta altura, o DJ Ardiles produzia rap e produzia os meus trabalhos de rap. Então, um dia, enquanto batíamos papo, ele me disse que tinha um beat de estilo Pandza. Eu disse-lhe que ia cantar e ele respondeu: “Aí? Vai cantar Pandza?” Eu disse que sim e fui escrever a letra. Em 45 minutos, subi para o andar dele, pois vivíamos no mesmo prédio. Quando disse que havia feito a música, ele disse que não era possível, até que cantei e ele gostou porque eu me encaixei muito bem no estilo. Assim surgiu essa ligação entre o DJ Ardiles e o Mr. Kuka.
Essa primeira música chegou a ser lançada?
Sim, o título da música é “Birinca Mal” e foi a música que me lançou. Logo a seguir ao lançamento, gravei mais duas e uma delas era “Ao Teu Gosto”, que foi um sucesso. Depois veio “Tangerina”. “Birinca Mal” foi o primeiro Pandza que gravei.
Como descreve a evolução da sua carreira, do início até hoje, porque acredito que o Pandza não está estático e vem desenvolvendo com as novas tendências?
Eu sempre fui ambicioso, sempre procurei melhorar o estilo. Mas chegou uma altura em que eu não estava à espera do Ziqo, Ardiles, DJ OG ou de outra pessoa lançar uma tendência, eu lançava uma tendência nova para o novo estilo. Daí comecei a procurar evoluir de acordo com o mundo. Como o Pandza é um estilo aberto, podemos fazer mil Pandzas diferentes. Eu vejo em mim que evoluí muito com essa ambição de querer evoluir o estilo. O Pandza de ontem não é o mesmo que o de hoje. O Pandza do Mr. Kuka é diferente de um Pandza de outra pessoa. Uma prova de que o Pandza está a evoluir é o Hélio Beatz, que trabalha comigo no meu estúdio. Ele vem se impondo no mercado e é uma das coisas que mostra com mais convicção e força de investir neste estilo e trazer uma qualidade nova. Temos também o De Hermes; quando gravamos “Puxa Mazambana” este ano, acho que o Pandza está a evoluir. Mas não só, o Mr. Kuka vai evoluindo, vai ganhando o feeling para continuar a evoluir.
Acredita que seja possível internacionalizar o Pandza no sentido de termos muitos artistas a participarem no Pandza, assim como temos vários artistas internacionais a participarem em outros estilos?
Claro, obviamente, com 100% de certeza.
E o que falta para termos em massa participações de artistas internacionais no Phandza? Porque isso também ajuda a puxar o Pandza para fora.
Falta transferirem para a minha conta o dinheiro para eu investir nas coisas como deve ser. Falta dinheiro, minha querida, não falta mais nada. Qualidade temos de vídeos, o ritmo é bonito. Entreguem ao Mr. Kuka dinheiro para Moçambique internacionalizar o Phandza.
Então há falta de financiamento? É dinheiro, minha querida, financiamento. São vocês que fizeram mestrado; para nós, é dinheiro.