O ritmo envolvente do Phandza, uma das jóias da música moçambicana, tem suas raízes profundamente entrelaçadas na rica tapeçaria cultural do país. À medida que nos preparamos para explorar este gênero musical cativante, somos convidados a embarcar em uma jornada fascinante pelas origens e evolução do Phandza, que moldaram e influenciaram a identidade cultural de Moçambique.

Pandza que significa “rachar, partir” em Xichangana não é um termo novo na Música Moçambicana. Esta palavra é recorrente em algumas músicas do género Marrabenta ou da Música Ligeira Moçambicana. Por exemplo, Eugénio Mucavele faz uso desta palavra referindo-se a uma mulher que não quer ficar no lar porque ela quer “mapandzar a vida” “curtir ou amantizar”, traduzindo contextualmente o trecho da música). O outro exemplo merecedor de ênfase é da cantora Zaida Chongo que, em cima do palco, no auge da dança dizia “tsova, / nipfune kutsova (parte / ajuda a partir)” que, de algum modo, tem uma similaridade com a palavra “pandza”

Com o descerrar do Pandza surgiram, obviamente, duas alas. Os “puritanos do Rap” (declarados undergrounds) e os “liberais do Rap com tendências Pop” (proclamados bounces). Contudo, não é só a própria música e mensagem do Rap que sofreu mutações com o surgimento do Pandza. Mas, também, as próprias vestes e as simpatias político-sociais. Os puristas do Rap condenaram veementemente o Pandza num argumento que se sustentava no seguinte substracto: os “rappers de gema” devem preocupar-se em manterem-se fiéis as ideologias do mesmo, obtendo o reconhecimento dos seus seguidores que, por seu lado, valorizam a construção harmónica de base predominantemente electrónica, vocalização virtuosa, tom declamativo, bem como a construção das frases, por vezes de articulação complexa, que componham uma mensagem “eficaz” com versos a rimarem em orações de final imprevisto, que permitam causar um impacto dramático ou jocoso (e. g., Banda Podre, Squad Boss, Hélder Leonel, Simba, Iveth). Os liberais do Rap, fazedores e defensores do Pandza, socorriam a sua deserção com a seguinte tese: com este estilo – Pandza – desfrutamos de maior êxito comercial, pois existe a opção de revelar as invenções musicais de acordo com as leis da oferta e da procura do mercado discográfico, abrangendo um maior número de fãs que se procuram inserir numa “moda”, exemplo, o Mega Júnior, Fily Baby, Dan O. G, Dj Damost. Também, existia um terceiro grupo que concilia os dois pólos acima mencionados, adquirindo reconhecimento artístico e comercial, embora privilegiem a descrição da realidade que se vive nas cidades, designadamente a nível de conflitos ou aproximações interétnicos como o Trio Fam, Vacina Boss/Dopaaz.

Mesmo com a reprovação que o Pandza sofreu, inicialmente, este género musical, rapidamente, tornou-se obrigatório em festas e locais de convívio em Moçambique. A Música Moçambicana recebia mais um género que norteava-se por um discurso musical onde o modo de vida resumia-se em símbolos de ostentação como carros de luxo, mulheres seminuas (de preferência mulatas) e consumo de bebidas alcoólicas de elevado custo (e.g., Zico e MC Roger). Consintamos ou não, a verdade é que o Pandza se tornou uma alavanca económica para alguns produtores musicais, para os fazedores desse estilo e para as editoras que vendiam esse estilo. Ele reinventou uma rede de vários grupos que se estendem desde as audiências, aos promotores, aos animadores, aos educadores, aos técnicos de som. Desta forma, esse género tornou-se uma acção colectiva perante a estagnação da Marrabenta. A Marrabenta perdeu algum espaço por causa deste estilo, pois os jovens vinham com ideias ousadas que sufocavam os altruístas da música que se quer que seja de unidade nacional. Alguns tornaram-se endinheirados com o Pandza. Ele fez surgir empresários musicais e «labels de música»: Xs Label, Bang Entrenimento e República do Pandza. O mesmo, abriu espaço para que algumas mulheres que gostam de Rap, mas que não podiam fazê-lo, cantassem: Dama do Bling e Lizha James. Também, temos de assumir que, o Pandza inaugurou um campo de promiscuidade musical e de uma vocalização vazia. Até já temos “reis e rainhas do Pandza” que engordam publicidades de telefonias móveis e casas bancárias.

O Pandza deve ser amparado por se constituir como um dos legados de Moçambique. Mas antes de o catalogarmos ou definir o seu lugar devemos, sempre, lembrar que é filho do Rap (arte de ritmo sincopado, análogo aos sons tribais, com um conteúdo que ora é de crítica social, ora evidencia um egocentrismo desmesurado, onde a guerra de rimas é a estaleca determinante).

Se assumirmos os factos, precedentemente, concatenados, sem ressentimentos, podemos, de peito cheio, ir para o segundo estágio e “cantar orgulhosamente para o bem da nossa moçambicanidade”, que, também, “o Pandza é nosso filho”!